segunda-feira, 1 de junho de 2009

Um processo em momento inicial

Nos últimos anos temos visto vários momentos novos ocorrerem na educação e novo desafio tem sido proposto aos educadores e isso tem causado muitos desconfortos e em alguns casos a sensação de impossibilidade ou mesmo de incapacidade. Um desses pontos é a lei 10.639 que versa sobre a historia e cultura afro-brasileira, diga-se de passagem, um tema que a meu ver não precisaria de uma lei já que é tão obvio a sua importância.
Em relação a esse tema faz-se necessário discutir uma serie de acontecimentos que com certeza serão a eles atrelados, queiramos nós ou não. Vamos enumerar e discutir alguns deles. Não busco aqui discutir correntes historiográficas que já debateram acerca do tema e sim apresentar algo mais concreto e próximo de nós educadores.
01 – O negro como agente histórico.
O primeiro passo pra qualquer educador é sem duvida acreditar nessa premissa: o negro é agente de sua historia e, embora em muitos momentos tenha sido levado a não crer nisso deve a partir de agora redimensionar suas idéias e rever seus preceitos. A partir do momento que a criança ou adolescente tenha isso claro em mente terá maior facilidade em lidar com sua negritude, valorizando com mais ênfase sua ancestralidade. Isso não é algo que se constroem em um dia ou uma semana, é algo que demanda tempo e que pode até levar anos, mas que é possível acontecer.
02 – A valorização da raiz cultural.
Outro fato muito importante é levar esse individuo a entender e valorizar suas raízes culturais e, para isso é necessário que ele conheça sua cultura. Esse conhecer deve estar baseado em uma visão não eurocêntrica e nem tão pouco preconceituosa daquilo que, no fundo, representa o melhor de sua ancestralidade. Uma vez tendo sido apresentado a sua matriz cultural esse individuo passa a te-la como necessidade de ampliar seus conhecimentos acerca dela e quanto mais conhece-la mais irá valorizá-la.
03 – Racismo velado: não mais.
A partir do momento que aja um conhecimento mais amplo da cultura afro-brasileira se faz necessário mostrar a real face do racismo existente no Brasil. Racismo esse que se esconde numa pseudo-democracia racial que só existiu na cabeça de alguns sonhadores de um Brasil irreal e que se mostrou extremamente desigual e desconexo da realidade. Alguns com certeza afirmarão que esse racismo não existe, pois já estão tão acostumados com ele que o assimilaram e em mente já acreditam ser ele um axioma irrefutável.
Creio que baseado nesses três eixos podemos trabalhar de uma forma mais claro, desmistificando alguns paradigmas que se tornaram “reais” durante os mais de 500 anos de historia do Brasil.
Trabalhar com africanidades é buscar nossas raízes que não são européias como nos fizeram acreditar durante tanto tempo. A origem do homem foi na África, grandes impérios se formaram na África, a colonização do mundo se deu a partir da África e, depois de tantos anos de historia o mundo europeizado foi buscar mãos de obra na África, através do mais vil seqüestro que a historia teve conhecimento, com muita violência e desrespeito as etnias que lá estavam e desestruturando nações e reinos. É essa historia que precisamos contar.
Precisamos começar a trabalhar com nossos alunos uma pedagogia da auto-estima em cima das questões afirmativas que levem os brasileiros a entender e compreender suas raízes históricas e culturais, isso pode e deve ser feito destacando a beleza de cada etnia, a riqueza das diversidades humanas tendo em vista que em cada uma delas, dentro de suas peculiaridades tem algo novo e bom a oferecer. Isso fará com que nosso aluno assuma-se enquanto afro-descendente sem crises ou neuroses e passe a ter uma identidade, não embranquecida pelas elites dominantes, mas construída com forma e identidade clara e coesa.